21 de agosto de 2010

SUPER HERÓI OU BANDIDO ?

UM ÓTIMO ARTIGO DA REVISTA CULTURA!



VALE A REFLEXÃO PARA OS EDUCADORES , PAIS, PSICÓLOGOS....OU PARA QUEM QUER QUE SEJA QUE GOSTE DE CULTURA !!!



A BOBEIRA DOS SUPER HERÓIS


Os super-heróis de hoje, a psicologia infantil e as bobagens de Stallone



Tirem as crianças da sala, os super-heróis estão entrando. É mais ou menos isso o que alguns psicólogos estão alertando. No encerramento da 118ª Convenção Anual da Associação Americana de Psicologia (APA – American Psychological Association), ocorrida na Califórnia no último dia 15, os psicólogos dessa tradicional entidade consideraram que as personagens heróicas da atualidade estão cada vez mais violentas, estereotipadas, machistas, tratam mal as mulheres, sendo, por tudo isso, um exemplo inadequado para as crianças. “(Os super-heróis de hoje) são divertidos e ganham afeição rápida, mas são irresponsáveis e podem prejudicar o rendimento escolar dos menores”, defendeu a Dra. Sharon Lamb, professora de Saúde Mental na Universidade de Massachusetts, autora de A Vida Secreta das Meninas (2004), Packaging Girlhood (2007), entre outros, e uma das mais conceituadas estudiosas dos EUA sobre a mente infanto-juvenil.


Segundo ela, as personagens criadas no passado estavam mais próximas da realidade e tinham um maior papel pedagógico. “Os super-heróis de antes eram indivíduos com problemas mais reais, e em muitos aspectos eram mais vulneráveis. Os de hoje, ou são violentos ou vazios, como Iron Man, que explora as mulheres, ostenta luxo e mostra virilidade através da criação de armas poderosas”, explicou Lamb, em declarações feitas ao jornal El Mundo.


Lamb estudou a influência desses super-heróis em pesquisa realizada com 674 crianças, entre 4 e 18 anos. O resultado mostrou que as crianças acreditam que “se não podem ser um super-herói, sempre serão vagabundos (vadios)”. “Os vagabundos”, ainda segundo Lamb, “são engraçados, mas certamente não gostam da escola e fogem das suas responsabilidades”. Outra autora, Lucy Hughes-Hallett, historiadora, jornalista e crítica literária também se enveredou por essa discussão em seu livro Heróis – Salvadores, Traidores e Super-Homen (2007), onde analisa a natureza do heroísmo na civilização ocidental. Habilmente, Hughes-Hallett analisa no livro a vida de oito excepcionais homens da história e da mitologia (Aquiles, Alcibíades, El Cid, Drake, Wallentein, Catão, Garibaldi e Ulisses), recriando as expectativas que tinham deles os seus contemporâneos. “A veneração exagerada por um indivíduo excepcional representa uma tentação insidiosa. Permite àqueles que veneram eximir-se de responsabilidades, procurando no grande homem a salvação ou a realização daquilo pelo que deveriam estar buscando eles mesmos”, escreveu.


Mas calma, nem tudo está perdido. Os grandes estudiosos esqueceram-se do profeta-brucutu-falastrão Sylvester Stallone. Ele mesmo. Para divulgar seu novo filme (ao que se sabe, mais uma bobagem violenta, previsível e pra lá de estereotipada), o ator disse que “vai derrubar os super-heróis e outras tolices do cinema” (!) “Tudo isto é um ciclo. Acho que as pessoas se cansarão de ver só super-heróis. Todos já chegaram ao cinema”, disse Stallone à agência EFE. Disse mais: “Não vou menosprezar ‘Crepúsculo’, mas estamos nos esquecendo da audiência masculina. Até as mulheres se perguntam onde estão os homens de verdade. Uma pessoa não pode se sentir identificada emocionalmente com um super-herói. São bons filmes para iludir, e não são fáceis de fazer, mas os protagonistas vivem em outro mundo. Não passam pelas coisas cotidianas que te fazem humano”, completou o ator, um dos maiores símbolos da brutalidade desenfreada exposta pelo cinema no século XX.


Certamente que existem vários estudos sérios sobre a influência dos novos super-heróis na mente das crianças, e não seremos nós, leigos, que julgaremos a questão. O tema é ardente, e existem argumentos que maximizam ou minimizam a influência dessa agressividade (em geral machista) nos mais novos. A visão da APA e de Lamb pode ser exagerada, ou saudosista, ou podemos simplesmente entender como mais um alerta aos pais. Quanto a Stallone, prefiro nem comentar. Se tivesse que eleger um vampiro, um de verdade, desses que vive e sobrevive à custa de sangue, diria que ele cai como uma luva.


por Kelly de Souza
Cinema, HQs, Ilustração, Infantil, Psicologia, animação, livros